sábado, 22 de maio de 2010

Planeta de Golgafrincham

O Guia da Galáxia para Caronas diz isso a respeito do planeta de Golgafrincham: é um planeta com uma história antiga e misteriosa. Rico em lendas, vermelho, e às vezes verde, com o sangue daqueles que lutaram em tempos idos para conquistá-lo; terra de paisagens áridas e ressequidas, de ar doce e estonteante com o aroma das fontes perfumadas que brincam entre suas pedras quentes e poeirentas e nutrem os liquens escuros abaixo delas; terra de mentes febris e imaginações intoxicadas, particularmente entre os que experimentam esses liquens; terra também de idéias frescas, à sombra, entre
os que aprenderam a amaldiçoar os liquens e achar uma árvore para sentar embaixo; terra também de sangue, aço e heroísmo; terra do corpo e do espírito. Esta era sua história.
Em toda esta história antiga e misteriosa, as figuras mais misteriosas eram sem dúvida as dos Grandes Poetas do Círculo de Arium. Estes Poetas do Círculo viviam nos caminhos de montanhas remotas, onde ficavam à espera de pequenos grupos de viajantes incautos para fazer um círculo em torno deles e apedrejá-los.
E quando os viajantes gritavam, perguntando por que eles não iam embora escrever poemas em vez de ficar importunando as pessoas com essa estaria de jogar pedras, eles paravam subitamente e entravam com uma das setecentas e noventa e quatro grandes Canções dos Ciclos de Vassilian. Tais canções eram de extraordinária beleza, e de comprimento ainda mais extraordinário, e todas se encaixavam exatamente no mesmo padrão.
A primeira parte de cada canção narrava como havia deixado a Cidade de Vassilian um grupo de cinco príncipes sábios com quatro cavalos. Os príncipes, que são naturalmente bravos, nobres e judiciosos, viajam a terras distantes, combatem ogres gigantes, seguem filosofias exóticas, tomam chá com deuses sobrenaturais e salvam lindos monstros de princesas vorazes antes de anunciarem que atingiram a luz e que suas andanças portanto estão concluídas.
A segunda parte, muito mais comprida, de cada canção falava sobre todas as brigas para quem ia voltar a pé. Tudo isso repousava no passado remoto do planeta. Foi, no entanto, um desses excêntricos poetas quem inventou as estarias espúrias sobre uma catástrofe iminente, que permitiram ao povo de Golgafrincham livrar-se de todo um terço inútil de sua população.
Os outros dois terços permaneceram firmemente em casa e levaram vidas cheias, ricas e felizes até que foram todos subitamente exterminados por uma doença virulenta contraída de um telefone sujo.